quarta-feira, 31 de março de 2010

Deprimidos correm mais risco de ter osteoporose, dizem cientistas




JULLIANE SILVEIRA
da Folha de S.Paulo

Pessoas com depressão podem apresentar densidade mineral óssea mais baixa, o que aumenta as chances de desenvolver osteoporose. A constatação é de uma meta-análise de 23 estudos realizada por pesquisadores israelenses e publicada na edição deste mês da revista "Biological Psychiatry".

Os trabalhos reúnem dados de mais de 2.300 pacientes com depressão e mais de 21 mil pessoas sem a doença.

Um dos mecanismos que poderiam explicar a relação entre depressão e problemas ósseos é a ativação do sistema nervoso simpático. "Esse sistema, usado pelo cérebro para controlar os principais sistemas do organismo, como o cardiovascular e o gastrointestinal, também controla as células ósseas por meio de neurotransmissores", explicou à Folha Raz Yirmiya, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e responsável pelo estudo.

A depressão aumentaria os níveis desses neurotransmissores no tecido ósseo, o que contribuiria para um pico de massa óssea menor, perda de tecido e osteoporose. A doença ainda favorece níveis mais elevados de cortisol na corrente sanguínea. "Muitos estudos mostram que as taxas de cortisol são altas em pacientes deprimidos e que o aumento dessa substância no organismo está negativamente relacionado aos níveis de densidade mineral óssea", acrescenta Yirmiya.

"Esse estudo ressalta o fato de que a depressão precisa ser vista como um problema de saúde que vai além do sofrimento psicológico e que pode trazer consequências negativas para a saúde física", diz Renério Fráguas, supervisor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

FATORES DE RISCO DA OSTEOPOROSE
  1.     Histórico familiar
  2.     Ser branco ou oriental
  3.     Ter mais de 65 anos
  4.     Ser do sexo feminino
  5.     Baixa ingestão de cálcio
  6.     Fumo
  7.     Alcoolismo
  8.     Uso crônico de cortisona
  9.    Baixo peso

Mobilidade

Outra hipótese que ajuda a explicar a associação entre depressão e menor densidade óssea é a relação indireta da doença com hábitos do paciente. "Sempre com a depressão vem uma alteração de comportamento". Essas interferências podem enviesar o estudo. 

"A baixa densidade óssea pode ser causada por pouca atividade física, aumento de tabagismo e alcoolismo, distúrbio nutricional ou a própria medicação ingerida", argumenta a endocrinologista Marise Castro, chefe do Setor de Doenças Osteometabólicas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Pacientes deprimidos costumam se movimentar menos. A atividade física estimula diretamente a formação óssea - e a falta dela pode comprometer a densidade do osso.

"Os ossos são tecidos vivos que estão o tempo todo sendo reabsorvidos e formados, processo chamado de remodelação óssea. Durante a vida, sofremos pequenos impactos que levam a microtraumas nos ossos, deixando-os mais frágeis. Os exercícios são um poderoso estimulante da remodelação", explica Salo Buksman, geriatra do Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia). 

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